quarta-feira, dezembro 14, 2005


Tempo de ser honesto

O modelo de debate, subscrito por todos os candidatos presidenciais, deve, pelo menos, cuidar evidenciar, se possível até ao tutano, o que cada um deles pensa, defende, propugna em relação aos temas questionados pelos moderadores e, se tal se propiciar, como será sempre desejável, às questões levantadas pelo respectivo oponente. Assim, o direito à réplica fica desde logo assegurado e à tréplica, porventura.

Ora, se o candidato não responde plenamente, se se escusa a responder ou ludibria a questão, fica ao seu próprio critério e, obviamente, à mercê do juízo do eleitor.

O que lamento é a mentira descarada e vergonhosa, sob a capa de um pretensiosismo demagógico, clericalista, homiliário e insano, com que o eminente Prof. Louçã apresenta o seu novo modelo para o financiamento da protecção social, no âmbito - e pedra basilar - do seu manifesto de candidatura presidencial. Entre outras.

Sugere o Prof. Louçã que para garantir o financiamento sustentável da protecção social nas próximas décadas é necessário «A redução da Taxa Social Única em 3,5%, que facilita a criação de emprego nos sectores trabalho-intensivos, conjugada com a compensação por uma taxa de 3% sobre o VAB» (Valor Acrescentado Bruto) «das empresas,» permitindo «garantir esta sustentabilidade para além de 2035 ou 2050, conforme a evolução demográfica.»

Traduzindo, o Prof. Louçã é adepto da criação de um novo imposto (sobre o VAB) que iria penalizar, sobremaneira, todas as empresas que apostam na modernização e nova tecnologia (capital-intensivas), que vindicam, através das exportações, a sua própria sobrevivência no mercado global; sendo certo que esta sobrevivência passa meritoriamente por uma crescente competitividade de toda a economia e não por salários baixos, mas consentâneos com elevadas qualificações. E quem não aguentasse a nova carga fiscal, entregaria títulos de participação (acções, quotas e... o que mais houvesse) ao Estado. Enfim, uma grande marcha pela reestatização.

Indefensável.